A Grande Jornada

No começo, um sentimento de que alguma coisa não vai bem. A vida pode estar até muito boa, mas parece sem sentido. Nesses momentos angustiantes, nos sentimos em um beco sem saída. O coração clama por mais alívio e paz, não mais com base no que nos oferece o mundo material, mas a partir de algo mais profundo. Assim, inicia-se uma jornada que pode levar anos até a chegada a um porto seguro. Essa viagem interna tem alguns estágios. Vamos traçá-los em etapas, com os alertas necessários e as grandes alegrias que podemos encontrar nesse caminho.

1. A inquietação

Pode surgir ainda na juventude, quando um leque de caminhos se apresenta à nossa frente. Ou mais tarde, quando surgem as perguntas existenciais: qual o sentido da vida? Quem sou eu? As crises também podem nos puxar para essa reflexão, que nos impulsiona a encontrar uma via capaz de atender às necessidades do espírito.
Outro momento de inquietação ocorre na meia-idade, quando pode iniciar-se uma busca de um sentido mais profundo para a vida. "Até os 35, 40 anos, a existência é totalmente voltada para fora: trabalhar, procriar, produzir. Na segunda metade da vida, começa a jornada para o mundo interno, e para a busca de uma espiritualidade mais intensa", escreveram as autoras inglesas Anne Brennan e Janice Brewi no livro "Arquétipos Jungianos - A Espiritualidade na Meia-idade" (ed. Madras). É outra fase de grande inquietação, que vai apressar e favorecer a fase seguinte.

2. O chamado

De repente, em meio a esse incômodo interno, recebemos um chamado: algum ensinamento espiritual nos toca. Nesse momento, ele responde a todas as nossas perguntas.
Podemos continuar a vida inteira em contato com ele, mas o mais provável é que esse caminho deixe de ser satisfatório. Foi o que aconteceu com a tradutora Virginia Murano. "No meu caminho espiritual inicial, provei um amor imediato". Por um momento, a escolha se revelou acertada, mas, em alguns anos, tornou-se decepção. "Rompi com a religião por uns 30 anos. Não conseguia compreender que a espiritualidade não precisasse estar atrelada necessariamente a uma linha religiosa tradicional."

3. Os primeiros passos

Antes de se entregar totalmente a uma linha espiritual, é necessário um tempo para averiguar a escolha. Sister Mohini Panjabi, da Organização Brahma Kumaris, dá conselhos essenciais sobre os cuidados nessa entrega. "A busca pode vir acompanhada de ansiedade e devoção cega, pois algumas pessoas se entregam muito rapidamente, e de forma emocional, a certas práticas sem avaliar de maneira objetiva os benefícios que podem experimentar e os riscos que podem correr", afirma.
Para avaliar melhor a escolha, ela nos aconselha a verificar onde o dinheiro é empregado e qual o comportamento moral e ético dos seus líderes. "É igualmente bom saber se essa linha espiritual estimula uma interação compassiva com o mundo ou se mantém uma ação social de serviço", diz a iogue indiana.

4. Os riscos

Praticante com mais de 40 anos de busca espiritual, o gerente administrativo paulista Jairo Graciano dá outras indicações valiosas: "É preciso pesquisar na internet toda informação a respeito do grupo escolhido, ler seus livros e folhetos com distanciamento. Nosso lado racional e crítico pode ajudar nessa hora".
Uma de suas experiências ruins ocorreu com um mestre, muito cordial e extrovertido, que se dizia seguidor de um grande líder espiritual indiano (este sim, verdadeiro). "É uma tática - eles usam o nome de um mestre conhecido e se dizem seus seguidores. Nesse caso, fui descobrir depois que um texto assinado por esse falso mestre era, na verdade, plágio de um outro".
Ele aconselha a sentir a intuição - se ela avisa que há algo errado, é bom acender o sinal amarelo!

5. A entrega sábia

Lama Samten é reconhecido nos meios budistas como um líder íntegro e compassivo. Gaúcho, foi professor de física na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e hoje mantém centros de meditação em vários pontos do país.
Sua visão dos caminhos espirituais é sábia - e desconcertante. "Um praticante deve olhar para uma via espiritual apenas como um percurso para chegar a um destino. Por isso, é preciso que ele tenha bem claro em sua mente o que está buscando", diz.
Em outras palavras, se é alívio financeiro, talvez seja melhor se empenhar mais no trabalho ou trocar de atividade profissional se não estiver satisfeito com seus rendimentos. Se o caso for uma desilusão amorosa, uma terapia pode ser mais indicada.
"Mas, se uma pessoa quiser ser mais feliz, ou ter paz de espírito, por exemplo, ela pode trilhar um caminho espiritual por um tempo e ver se ele atende a seus objetivos. Tudo depende das metas de cada um", aconselha ele.


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